Entrevista João Ceregeiro: “Seria oportuno trabalhar uma legislação que promova a protecção dos parques e jardins na cidade atual”
João Ceregeiro, presidente da Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas, faz um balanço positivo quando aumento crescente e valorização do Arquiteto, como criador de uma sociedade mais verde. O responsável ressalva, ainda, a importância da “abertura dos conceitos da estrutura ecológica urbana no planeamento e junto dos decisores políticos”.
Com a crescente aquiescência da sociedade para a mobilidade, sustentabilidade e espaços verdes, considera que o arquiteto paisagista tem vindo a ser mais procurado?
Mais do que aquiescência assiste-se a uma evolução profunda na abertura da sociedade pós-contemporânea, sobre a importância do espaço exterior nas nossas vidas e no bem-estar geral. A consciência da salvaguarda dos recursos naturais, o relacionamento com o património cultural, a importância da biodiversidade seja na cidade ou fora dela, teve entre outras consequências, uma maior procura nos últimos anos dos profissionais de Arquitectura Paisagista e dos seus serviços junto das áreas do projecto, do planeamento e do ordenamento do território.
De que forma é percepcionado o aumento da procura e valorização do arquiteto paisagista?
A actividade da arquitectura paisagista nomeadamente na sua componente liberal e empresarial, como indicador mais sensível às variações do mercado de trabalho, teve por motivos inerentes à realidade económica, uma quebra acentuada no período pós-crise, tendo vindo progressivamente a aumentar a actividade desde 2015. Com o início da pandemia, houve uma quebra ligeira do incremento registado.
No último ano e com grande satisfação, fomos surpreendidos com um aumento substancial da actividade e de novos profissionais inscritos na associação.
Como consequência do processo de transformações em curso sobre o território, que decorre da emergência de novas políticas de planeamento urbano e de ordenamento do território, seria muito interessante verificar a resposta adequada por parte serviços do estado, na criação de novas vagas para arquitectos paisagistas, essenciais em sectores chave da administração, para atender aos desafios em curso.
Qual a importância da realização da URBANGARDEN?
A cidade de Lisboa, através do seu Plano Diretor Municipal de Lisboa (PDM), com base nos princípios do Plano Verde de Lisboa, assumidos como programa político, viu na última década aplicadas no terreno temáticas ligadas à ecologia, mobilidade, desenho e equipamento do espaço público, numa base sustentável, colocando à superfície valores sociais, culturais, ecológicos e paisagísticos essenciais na tomada de consciência sobre a realidade do espaço da cidade.
De que forma a feira pode ser uma mais-valia para a zona de Lisboa e para os arquitectos paisagistas?
Como arquitecto paisagista, considero o evento Urban Garden de grande importância não só para a zona de Lisboa, mas para os visitantes vindos de outros pontos do país, como espaço de exposição e debate, feira de produtos e materiais, mobiliário e equipamento, cobrindo serviços na área da sustentabilidade urbana e na promoção da economia circular.
De que forma a Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas (APAP) está a trabalhar a participação na URBAN GARDEN?
A APAP estabeleceu uma parceria com a organização da Urban Garden, onde além de um Stand de representação da associação, serão realizadas conferências sobre resiliência e sustentabilidade e organizado um concurso internacional de ideias no âmbito dos corredores verdes, com o título - Do Porto ao Aeroporto, cujo programa irá incidir sobre uma artéria central da cidade de Lisboa.
De que forma a feira pode ser uma mais-valia para a zona de Lisboa e para os arquitectos paisagistas?
Como arquitecto paisagista, considero o evento Urban Garden de grande importância não só para a zona de Lisboa, mas para os visitantes vindos de outros pontos do país, como espaço de exposição e debate, feira de produtos e materiais, mobiliário e equipamento, cobrindo serviços na área da sustentabilidade urbana e na promoção da economia circular.
Sente que os grandes centros urbanos nacionais estão no “bom caminho” relativamente à coesão e construção de espaços verdes e zonas comuns?
Aquilo que vinha sendo há décadas um tema de combate dos arquitectos paisagistas na abertura dos conceitos da estrutura ecológica urbana no planeamento e junto dos decisores políticos, acredito hoje estar assumido como uma realidade transversal à implementação das novas políticas urbanas, não somente nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, mas também em cidades de média e pequena dimensão.
Falando em coesão, podemos também considerar a importância da coesão de uma estrutura verde numa escala local, mas também regional e do seu papel na promoção da coesão territorial, considerando aqui a estrutura verde como uma entidade portadora de equipamentos e serviços colectivos conducentes ao aumento da qualidade de vida e à redução de disparidade territoriais.
É muito interessante verificar como até à escala das freguesias a capacidade da estrutura verde de redefinir o desenho do espaço não construído e da capacidade de se agregarem os vazios urbanos, transformando-os em áreas de lazer, de produção de alimentos, de desporto, ou simplesmente como áreas de protecção e regeneração ambiental.
Que melhorias poderiam ser realizadas relativamente aos espaços verdes já construídos?
A garantia de uma manutenção viável numa base de qualidade e neste contexto na preservação do desenho, no respeito pelos conteúdos, nomeadamente vegetal e do tecido construído, e do bom funcionamento da rede de infraestruturas. Infelizmente assistimos ainda a muitos jardins, parques e espaços públicos, com baixos níveis de manutenção ou quase nulos, envolvendo a perda da legibilidade espacial original, a substituição de vegetação, ou a ausência de critérios de manutenção coerentes com o espaço. Neste contexto saudamos o recente regime jurídico da gestão do arvoredo urbano, embora haja ainda muito para fazer.
Seria importante repensar na orgânica dos municípios, a dimensão e as valências técnicas inerentes aos departamentos de gestão dos espaços verdes, estabelecendo também capacidade de candidaturas com base em orçamentos ajustados às realidades territoriais em questão.
E aqueles que estão atualmente em construção?
Considerando a importância dos espaços verdes em contexto urbano, seria muito oportuno trabalhar uma legislação que promova a protecção efectiva dos parques e jardins na cidade actual, salvaguardando a sua identidade arquitectónica e paisagística assim como a sua relevância na prestação de serviços do ecossistema no perímetro identificado.
Acha que num futuro próximo haverá uma boa relação entre a natureza e a obra humana?
Esse elo existe. É um processo lento. Foram algumas gerações de relações cortadas com a natureza. Actualmente mesmo alavancado pelas recomendações e directivas oficiais que emergem das alterações climáticas, depara-se ainda com resistências, culturais, sociais e económicas.
Para o efeito, será necessário um compromisso político forte, colocando a paisagem junto das dinâmicas económicas e sociais, e se conseguir que a palavra sustentabilidade ganhe terreno de forma a conseguirmos passar o testemunho às próximas gerações.
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Sobre a APAP
A Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas (APAP) tem como objetivo o estudo e defesa dos interesses relativos à actividade da Arquitectura Paisagista. A APAP tem vindo a lutar pela igualdade de tratamento de todos os técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projectos.
A APAP é a única associação profissional representante dos arquitectos paisagistas em Portugal. Sendo uma entidade e uma profissão que cumpre uma importante função, recebeu o estatuto de Utilidade Pública.
A APAP representa a profissão no contexto europeu, sendo membro da Federação Europeia dos Arquitectos Paisagistas (IFLA Europe), criada para representar a profissão de arquitecto paisagista na Europa.